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António Jorge Nunes

Depoimento de Gratidão

 

A edição do catálogo da Biblioteca Adriano Moreira, tendo associados um conjunto de depoimentos de notáveis cidadãos portugueses que, tal como este têm como rumo de vida o interesse público, ocorre um ano após a inauguração da Biblioteca por Sua Excelência o Presidente da República.

Adriano Moreira ganhou respeito e dimensão internacional, processo em que não quebrou a sua integridade e ligação às origens, a identidade falou sempre mais forte, a dimensão enciclopédica da sua inteligência é bem evidente, na visão universal da Lusofonia, no sentido positivo com que o povo português marcou na História da Humanidade, reconhecimento bem evidente nas notas biográficas, nas principais obras publicadas e condecorações obtidas.

Em Setembro de 2002, quando da realização do III Congresso de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Bragança, preparado sob o tema de afirmação da cidadania, reforço da identidade e promoção da modernidade da região, e realizado sessenta e um anos após o II Congresso, Adriano Moreira não faltou.

Na sessão de abertura e encerramento, marcaram presença, Sua Excelência o Primeiro Ministro, Durão Barroso e no Sua Excelência o Presidente da República, Jorge Sampaio, tendo a responsabilidade de presidente da Comissão Executiva, num dos intervalos do Congresso, encontrei o Professor Adriano Moreira à procura de um local para almoçar. Convidei-o para almoçar num pequeno e discreto pronto a comer “Cibinho”, penso que almoçámos só os dois e aí, iniciei um percurso de admiração pelo Professor, e compreendi a voz da força da resistência ao centralismo que tem empobrecido o país e acentuado as desigualdades entre regiões e entre os cidadãos, do cidadão que não fugiu das origens, não voltou costas a Trás-os-Montes, ao contrário de tantos, que representantes do Povo, quando chegados a Lisboa se vergam ao poder dos directórios partidários e das mordomias do poder.

Nasci numa pequena aldeia, Refoios, atrás da Serra de Nogueira, aldeia em que só alguns anos após o 25 de Abril, se conseguia aceder por automóvel, tive a minha formação de transmontano assegurada pelos meus pais, lavradores. A vida dura, colocou-me nos tempos de estudante no combate de protesto ás desigualdades, pela democracia e pela cidadania. Não conhecia o Professor, mas nesse dia, percebi a grandeza do homem, que poderia ter mudado para melhor o curso da História, trazendo o país da ditadura para a democracia, para o desenvolvimento.

A sua força cívica e política, a sua visão democrática inabalável são evidentes, não se furtando ao combate de mais elevado nível, quando nas colónias lança as bases da criação das Universidades de Luanda e Lourenço Marques e a eliminação do estatuto do Indigenato, restituindo o direito e a cidadania ao povo.

Adriano Moreira, num gesto de generosidade e elevada nobreza intelectual decidiu, no ano de 2009, para honrar as raízes transmontanas e a memória de seus pais, doar ao município de Bragança, o seu Acervo Bibliotecário, Condecorações Honoríficas, Trajes Académicos e outros objectos pessoais, doação acolhida em espaço autónomo no Centro Cultural com a designação de Biblioteca Adriano Moreira.

Já no mês de Junho de 2010, decidiu aceitar ser o primeiro dos fundadores da Academia de Letras de Trás-os-Montes, instalada em Bragança no antigo Colégio dos Jesuítas, hoje Centro Cultural.

Os Bragançanos sabem reconhecer o gesto do mais notável representante vivo da Identidade Transmontana, por isso, todos consideramos justa a homenagem que hoje continuamos e que no futuro será tão mais reconhecida quanto melhor soubermos, no governo das instituições e na comunidade em geral, assegurar a primazia dos valores do conhecimento, da liberdade e do bem comum.

Presidente da Câmara Municipal de Bragança