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Aníbal Cavaco Silva

Dizendo, iluminou

 

Português ilustre, português de Trás-os-Montes, é nas suas origens, em Grijó de Vale-Benfeito que o Professor Adriano Moreira reencontra «a Pátria pequenina» que, nas sua próprias palavras, «é a aldeia de cada um».

Mas a «Pátria pequenina» que é Trás-os-Montes da vida austera, produz homens de porte agreste e alma sensível. Aí nasceram, ao longo dos séculos, portugueses que interpretaram, como poucos, o sentido do dever e da honra. O dever e a honra que obrigam à frontalidade e à inteireza.
Na Universidade, onde foi mestre da lucidez, o Professor Adriano Moreira construiu escola, em torno da «convergência dos saberes». A convergência que, só ela, permitirá conduzir à compreensão de uma sociedade inexorável e crescentemente complexa.

Anunciador de uma idade da convergência e da convivência das civilizações, o Professor Adriano Moreira nunca foi daqueles que procuram agradar a todos. Na vida pública, pertenceu à estirpe dos que permanecem fiéis à sua palavra e ao seu trajecto.

Foi testemunha da mudança dos tempos e da mudança das vontades. Imitou, então, aqueles penedos graníticos transmontanos que contemplam, serenos, as volubilidades da vida e dos homens. Nunca foi, no entanto, um dos silenciosos. Sempre foi capaz de dizer o que tinha de ser dito. Disse o essencial, nem mais, nem menos do que o essencial.

Dizendo, iluminou. É daqueles homens do pensamento e da reflexão que nos fazem compreender melhor o mundo em que vivemos.
Transformou as ideias em palavras e as palavras em acção. Como homem que agiu, sabe o valor do tempo. Sabe, sobretudo, que não se pode perder tempo.

Nas suas avisadas palavras,«é absolutamente inadmissível que alguém, sobretudo quando é responsável pela coisa pública, perca o tempo dos outros, porque o tempo dos outros é o futuro de todos».

Sempre soube que as instituições duram mais que os homens. Por isso, para servir os fins dos homens,defendeu ser imperativo reforçar as instituições.São suas, ainda, estas palavras:«Quando um homem consegue dar uma palavra de conselho, acrescentar uma ideia, remediar um mal,elucidar uma dúvida, preservar um valor, inovar uma solução, deve agradecer em silêncio a graça de um dia ter vivido, em plenitude, o espírito do seu povo».

Temos o dever de agradecer publicamente, por palavras e por actos de reconhecimento, ao Professor Adriano Moreira. Agradecer a quem sempre alimentou a esperança de fazer convergir os valores da História com as exigências do futuro.

Agradecer a quem tanto se ocupou, acima de tudo, da questão de como podemos continuar a ser portugueses. Agradecer a quem nos fez sentir que o património que legámos ao mundo, mais do que pedras edificadas, pode ser uma verdadeira força moral.


Depoimento retirado do discurso do Senhor Presidente da República na cerimónia de homenagem ao
Professor Adriano Moreira, proferido em Bragança no dia 17 de Junho de 2009.