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Manuel Clemente

Atento, acolhedor e sábio

 

Do Professor Adriano Moreira, direi imediatamente algo de pessoal e convicto: a viva recordação que mantenho dele, das suas presenças e intervenções no Colégio Universitário Pio XII (Lisboa), que eu frequentava, vai para meio século.

Os tempos eram de grandes mudanças, daquelas que requerem bússolas e timoneiros, como só podem ser os sábios, de vida vivida e pensada. Assim era Adriano Moreira, quando aparecia, ouvia e conversava. Conseguia tempo e tinha o gosto de estar connosco, jovens estudantes de várias escolas, todas muito divididas entre quem ensinava e quem devia aprender e repetir.

Mas já não bastava repetir, daquela altura em diante. Sabíamos, aliás, que o próprio percurso de Adriano Moreira fora de aprendizagem permanente e inovadora, arriscada até. Um percurso de inteligência e liberdade, escoradas em solidez pessoal, “trasmontana” e cristã. Era nessa solidez que também nos firmávamos para o futuro.

Sucederam-se os anos, mudaram-se os regimes, cada um seguiu a sua vida. Andamos hoje nos sessenta e ele nos oitenta, mas continua a ouvir-nos e nós a ele. De tempos a tempos, por amigos e acontecimentos comuns, por leitura do que tão bem escreveu e escreve, a figura do Professor Adriano Moreira continuou-nos quase tutelar.

Devemos-lhe muito, os portugueses da minha geração em especial. Passou meio século e ele continua idêntico, quer dizer, atento, acolhedor e sábio. É das poucas e preciosas figuras que granjeia a consideração inteira do arco social e político, cultural sobretudo.
Agradeço-lhe a vida que teve e terá. A vida que magnificamente é. Tomá-lo como inspiração e estímulo é o que mais lhe devemos e muito justificadamente lhe compete.

Bispo do Porto