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Teresa Patrício Gouveia

A intensidade de uma vida e a consistência de uma intervenção

A intensidade da vida e a consistência da intervenção é por onde me ocorre começar estas linhas de testemunho pessoal sobre o Professor Adriano Moreira.

Nos mais de 40 anos de amizade, tenho tido o privilégio de acompanhar o percurso pessoal e político de alguém para quem o compromisso com o seu tempo se transforma num imperativo da acção.

Quem convive ou simplesmente ouve o Professor Adriano Moreira, não raras vezes sente o desencanto ou a amargura que ele associa a um persistente desencontro com a História. Não lhe posso dar aqui razão. Foi justamente por estar em sintonia com ela que lhe advieram as contrariedades conhecidas, durante um regime que teimou em ignorar o curso dos acontecimentos. No contexto das suas intervenções políticas mais tardias, esse mesmo sentido da história e uma perspectiva civilizacional aliadas à sua própria experiência vivida, densificaram o seu contributo político.

Acompanhei mais directamente, como deputada ou no Governo, os últimos 10 anos de actividade parlamentar do Professor Adriano Moreira. O seu pensamento estruturado, sustentado num admirável domínio da língua, contribuiu para o debate dos temas que correspondem às suas preocupações permanentes – as relações internacionais, a paz e a segurança, a educação, o valor das instituições, a lingual portuguesa, o lugar de Portugal na Europa e no Mundo -, colocando a discussão política no plano dos valores e dos interesses estratégicos nacionais.

A autoridade de Adriano Moreira foi aí reconhecida, independentemente das divergências políticas; as suas intervenções ouvidas com a mesma expectativa e atenção da esquerda à direita, nos grupos parlamentares ou desde a bancada do Governo. Essa autoridade provém da sua integridade radical, da sua irredutível independência, da originalidade do seu pensamento e do sentido universalista da sua visão dos problemas nacionais.
Numa nota mais pessoal, gostava de testemunhar a vitalidade transmontana, afectiva e convivial que Adriano Moreira usa com os que lhe são próximos. O gosto da conversa, da mesa, o prazer do passeio no campo, das árvores plantadas e dos frutos colhidos e oferecidos, são indissociáveis dessa intensidade de vida com que comecei estas linhas.

A vontade de intervir, o impulso para a acção, que tem exercitado ininterruptamente nos domínios político, académico e cívico, resultam de um imperativo interior, profundamente ético, profundamente vital, numa rara convergência de convicção e responsabilidade, que constitui uma lição de vida para os que têm o privilégio de a partilhar.

De partilhar o seu tempo, que Adriano Moreira generosamente também faz nosso.

Administradora da Fundação Calouste Gulbenkian